Isabella Diamantino, uma adolescente
mineira de 17 anos, resolveu pintar o cabelo de azul. E esse foi o motivo de
toda a confusão em sua escola, o Colégio Cenecista Dr. José Ferreira: o cabelo
azul. Dá para acreditar? A adolescente é conhecida pelos parentes e amigos como
Bell. Devido à cor inusitada do cabelo, sofreu bullying e foi expulsa da
escola. Isso aconteceu em fevereiro. Que escolas conservadoras existem, todos
sabemos. Principalmente as religiosas, cheias de regras de comportamento.
Agora, até que ponto a escola pode
interferir na liberdade individual do aluno, se ele não violar nenhuma regra de
convivência? Até que ponto normas escolares não cerceiam o pensamento e não se
transformam em bullying? Bullying é um termo originado na língua inglesa
(bully = “valentão”) e já corriqueiro no Brasil. Significa assédio – físico
e/ou psicológico. Se nos ensinam na escola que não podemos ter preconceitos,
muito menos ser “valentões”, por que então a própria escola se sente no direito
de discriminar um aluno? Uma instituição dedicada a transmitir conhecimento não
deveria confundir disciplina com intolerância.
Conversei com Bell pelo telefone.
Queria saber como ela se sentia, após todos esses meses, já em outra escola de
Uberaba, Minas Gerais. Ela me contou como acabou sendo expulsa de seu colégio.
Não foi assim da noite para o dia. Já frequentava as aulas havia um mês com a
nova cor de cabelo. Foi advertida pela direção de que teria de se adaptar ao
“normal” do colégio e que, caso não quisesse, seria “convidada a se retirar”.
Ela precisou conviver com olhares críticos, fofocas e preconceito: “Não é o
cabelo azul que diz se você é ‘vagabundo’ ou não. Queria pintar e pintei. É a
mesma coisa que uma loira pintar o cabelo de preto. Não entendo por que não
pode ser azul”.
Bell afirmou não ter sofrido bullying
somente dos colegas, mas do coordenador, que também é professor de filosofia do
colégio e era seu mestre favorito: “Eu pintei o cabelo e até então não tinha
visto ele. Aí no dia em que ele chegou à escola e me viu, ficou me olhando com
uma cara feia. Eu disse ‘oi’ e ele me ignorou. E eu sei que quando ele era
adolescente ele tinha cabelo gigante. Quando ficou velho, decidiu usar cabelo
‘careta’” (referindo-se ao cabelo curto).
O diretor, Danival Roberto Alves, deu
o prazo de uma semana para que ela trocasse a cor do cabelo, segundo Bell e seu
pai. Mas, antes de esse prazo se esgotar, a aluna foi barrada, já dentro da
escola, e depois expulsa do colégio. Guilherme Diamantino, o pai de Bell, disse
que em nenhum momento foi informado pela instituição de qualquer advertência da
escola. Soube pela filha o que houve e se apresentou voluntariamente para
tentar resolver a situação.
“O argumento deles foi que os alunos
reclamaram e estavam se sentindo incomodados com o cabelo dela. Mas na verdade
o problema era o pensamento atrasado da direção. Se fossem espertos eles podiam
até ter usado o cabelo da Bell para a publicidade do colégio - que também é
azul (risos)!”
Bell diz que seus pais eram ‘punks’
quando eram jovens: “Minha mãe chegou até a ser careca!”. Guilherme afirma que
quando estudava no mesmo colégio que expulsou Bell usava calça rasgada e
ninguém falava nada. Detalhe: era o mesmo diretor.
Procurado pelo blog para dar sua
versão sobre o episódio, o diretor Danival se recusou a falar, dizendo que isso
aconteceu “no ano passado”, embora tenha ocorrido há alguns meses. “Acho que
não seria bom nós fazermos comentários não”, disse o diretor. “Acho que não
compensa. Não convém. A gente desde o começo tomou essa atitude e nós não vamos
desdizer, mas tem inverdade. Até dizer que o contrário é o avesso...tá bom? Nós
não queremos comentar”.
No site da escola, que é 90% azul, na
parte de valores está escrito: “Sabemos que educação é mais do que instruir. A
educação é tornar as pessoas livres para fazer suas escolhas com consciência e
capacitá-las a participar ativamente da sociedade na qual estão inseridas.”
Será que eles sabem mesmo? Ou a
teoria que está no site da escola é, na prática, o avesso do avesso do avesso?
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